Fui contra a cota de mulheres e não sou comunista. Confira a entrevista do "homem bomba" de Criciúma - Karina Manarin

Fui contra a cota de mulheres e não sou comunista. Confira a entrevista do “homem bomba” de Criciúma

Conhecido como “homem bomba” de Criciúma e depois de passar por problemas de saúde, o ex-vereador e ex-deputado estadual José Paulo Serafim anunciou em entrevista ao blog que é pré-candidato a vereador em 2024. O motivo, justifica, é fortalecer seu partido, o PT, ao qual é filiado desde sua fundação. José Paulo trabalha para incluir na nominata o ex-prefeito Décio Góes. Na entrevista, ele alfineta os atuais vereadores, fala da época que colocou dinamite na cintura em protestos em Criciúma, justifica posição contrária a cota de mulheres em cargos de direção partidária aprovada por seu partido  e diz que é contrário ao “comunismo”. “Eu não sou a favor que todo mundo seja igual, que todo mundo tenha as mesmas coisas , porque as pessoas não querem ter as mesmas coisas, as pessoas não querem ser iguais”, enfatizou. 

Ex-deputado José Paulo Serafim é pré-candidato a vereador em 2024

Confira a entrevista: 

O sr está na articulação principalmente em Criciúma quando o assunto é o PT. Na cidade o partido tem como pré-candidato a prefeito o advogado Arlindo Rocha. A filiação dele já se concretizou? 

O Arlindo Rocha é um grande nome que surgiu até porque a história dele já é uma história vinculada ao movimento sindical, trabalhista. Quando ele foi prefeito em Maracajá ele já tinha pretensão de não sair novamente candidato… a maioria dos prefeitos diz que não vai sair a acaba saindo. Ele disse e não saiu. Veio para Criciúma.

Mas ele é o pré-candidato a prefeito pelo PT?

Até agora ele é o pré-candidato…

E qual o caminho que o PT traça? Quais os parceiros que vocês buscam?

Vai se procurar vários, mas oficialmente é a Frente: o PCdoB e o PV. 

O sr foi vereador, deputado e agora, há informações que o sr deve voltar ao cenário como candidato…

Eu sou pré-candidato a vereador, meu nome está colocado. Eu sempre digo, faltam quatro meses para a minha remissão sobre o problema que eu tive, são cinco anos. Então, eu já sou pré-candidato. Se daqui a cinco meses não der a remissão, se der algum problema daí não sou mais…

Por que essa decisão de voltar ao cenário?

É para fortalecer. Eu estou brigando para que o Décio seja candidato a vereador. Porque para mim, é importante ter nomes fortes para poder eleger. Eleger eu ou eleger ele. Hoje tem um nome forte na Frente que é o da vereadora Giovana Mondardo do PCdoB então é importante ter nomes fortes também do PT. Para mim é o Décio, eu…

O sr falou no Décio Góes, o sr foi coordenador das duas campanhas dele para a prefeitura de Criciúma, duas campanhas vitoriosas e depois, vocês dois foram candidatos a deputado, o que tirou sua eleição. O sr considera isso um revés?

Foi um revés em um momento que eu seria o deputado mais votado do PT de Santa Catarina. Toda avaliação levava a isso.

Mas qual acordo havia entre o sr e o Décio Góes?

Nós tínhamos um acordo que ele ia me apoiar, não que seria candidato. O lógico era ele ser candidato a deputado federal mas ai ele teria que enfrentar o Boeira, ou dar um tempo e voltar na próxima eleição, no meu ponto de vista reeleito prefeito. Até porque ele estava com muita moral na cidade. Mas ele definiu ser candidato. Não sei se foi uma decisão pessoal ou do grupo dele.

O sr sempre fala em luta e em trabalho por uma causa e é conhecido em Criciúma como o “homem bomba”. Que causa era essa e como o sr vê isso hoje? O sr faria tudo de novo?

Faria. Claro que se fosse hoje eu iria aperfeiçoar. Naquele tempo a gente usava rádio daquele de antena, hoje eu já usaria celular. Dinamite eu já ia usar outras bombas mais potentes…

Essa dinamite que o sr colocou na cintura, como foi aquele episódio?

Enquanto na profissão de pedreiro é a colher e carpinteiro é martelo, na de mineiro o instrumento de trabalho é a dinamite. Eu ficava a noite inteira com mais uma turma de pessoal cortando a espoleta e jogando para ver se dava tempo de mandar de volta. Se ela levasse muito tempo para explodir, nós cortávamos mais um pedacinho… era um risco. Nós tínhamos duas toneladas de dinamite, usávamos a dinamite, se os policiais atirassem acertava a dinamite na gente, com a detonação na gente detonava as duas toneladas de dinamite e morreria até os policiais . Era uma auto-defesa.

Que época foi isso?

Foi uma época que tocamos a Cooperminas por oito anos, quando ela começou a dar certo o juiz determinou que tinha que tirar da mão dos trabalhadores. Foi nos anos 90, 1993 ou 1994.

A sr faz parte do PT desde quase a adolescência e viveu muitas épocas do partido também com mandato. Essa questão de que quem tem mandato precisa dar uma parte do salário para o partido. Como funciona?

Era a única forma de ter o partido sem estar ligado ao poder econômico. Porque todos os partidos tinham financiamento pelo poder econômico. Pode ver que aqui em Criciúma por exemplo, tinha o Toninho da Imbralit, o Edinho da Mina Criciúma.. E tinha o Serafim de onde?  O PT tinha um projeto muito claro que quem tinha que financiar as campanhas do PT era o próprio PT. Então todos os filiados pagavam uma mensalidade…

E hoje não é mais assim?

Paga mas á pago anual. Antes era mensal. E o deputado, tipo eu quando fui deputado, eu pagava 30% por mês do meu salário mas 27% do Imposto de renda já dava metade do meu salário…

E havia no seu gabinete pessoas que não eram indicação sua?

O partido indicava três, quatro.. No meu primeiro tinham quatro, depois três que não faziam sequer parte da minha corrente, que nem me apoiavam. Até na última reunião do partido eu discuti isso porque hoje tá difícil até de reunir os deputados. Naquele tempo toda semana eram reunidos todos os deputados e o partido ia dar algumas linhas. O deputado tinha autonomia para fazer seus projetos e eu tinha. Eu fiz vários projetos.

Então o sr quer dizer que havia uma diretriz..

Mas nós tínhamos autonomia. Por exemplo, enquanto vereador em Criciúma: Porta giratória de bancos. Fui eu o autor. Tribuna Livre. Fui eu o autor. Central Funerária de Criciúma: fui eu o autor. Hoje os vereadores são autores do que? Autor de estar lá na porta do prefeito perguntando qual projeto que ele vai mandar. Vereador não tem que saber qual projeto o prefeito vai mandar. Tem que conhecer o projeto para debater, mas o vereador tem que fazer leis e tem que ter habilidade.Eu me reunia com lideranças de todos os bairros. O Décio se elegeu por isso. Ganhei muitas associações de moradores, ganhamos a OAB. Porque era articulação de massa. Da classe social. 

E o que mudou?

Ampliou mais as bandeiras e eu acho que ficou muito mais no discurso do que na prática. Mas eu não culpo o PT por isso. É que o PT também faz dois anos que não tem vereador na Câmara …

Mas vamos ampliar. O PT teve uma fase de crescimento com o governo federal por 12 anos, depois caiu e agora novamente com o governo federal há um trabalho de reconstrução…

Essa questão de estar no poder, ajuda ter o governo, mas onde é que o Serafim apareceu? Em 1987 quando ganhamos o Sindicato e daquele dia em diante nunca mais parou de luta. Fomos a Brasília sete vezes e conseguimos falar com o Sarney e conseguimos reabrir a Cooperminas. E não tinha Lula. 

A ideologia ainda existe hoje?

Sim, não tem um partido que entre sem ter uma ideia, sem ter um pensamento. A extrema direita trem uma ideia. O Bolsonaro prega claramente a ideia.

Porque a direita é extrema?

A direita não é extrema. O PT é da esquerda até o centro-direita então nós estamos com a direita no partido. A extrema direita, com a extrema esquerda que é o comunismo, é que tem os confrontos.

O sr é a favor do comunismo?

Não. Eu não sou a favor que todo mundo seja igual, todo mundo tenha as mesmas coisas porque as pessoas não querem ter as mesmas coisas, as pessoas não querem ser iguais. Se perguntar para a maioria dos trabalhadores não querem ser empresários.. vai ter gente que quer mas tem um monte que não ser. Eu estive na Alemanha, na Colômbia dando palestras sobre mineiros. Na Alemanha, como a qualidade de vida é melhor, a maioria dos trabalhadores querem ser trabalhadores, ganhar um bom salário, chegar na sexta-feira e curtir a vida, pegar o motorhome. Porque o empresário não vai pegar o motorhome não. Ele vai lá somar pra ver se vai dar lucro e leva seis, sete anos para ficar rico. 

Qual seria o regime ideal?

Eu sou socialista. O meu socialismo é o que estamos vivendo hoje com o Lula. Democracia. As mulheres não dizem: eu sou o que quero ser? O cidadão tem que ser o que ele quer ser. Claro que ele vai ter que conquistar. Se quiser ser médico terá que estudar, se quiser ser empresários terá que investir, quer ser trabalhador, vai ser. Mas não pode é ter trabalhador ganhando um salário com o qual não seja possível se sustentar. Eu defendo um socialismo assim, onde a elite pode ser rica mas não pode ficar meia dúzia disputando quem é mais rico enquanto isso está cheio de miserável em volta. O meu socialismo tem um limite de riqueza.

E como é que se define esse limite?

Tudo que tem que se definir precisa ser discutido. Tem que ter um limite. O cara quer quer um Jet Ski, um avião.. mas o cara quer cinco aviões ? Extrapolou, já tá tirando da distribuição de renda.

O sr estava comentando antes da entrevista que contestou a cota definida em seu partido para a participação de 50% de mulheres em direções partidárias. Por que o sr foi contra?

Foi dali que o PT começou a cair. Não adianta definir que a cota dos homens é 50 e das mulheres é 50. Aí os homens tem da secretaria do PT do Brasil uma parte que financia o movimento deles que é um R$ 1milhão e as mulheres, tem direito a 50% também dos espaços políticos mas a parte da mulher é R$ 100 mil. Como é que ela vai disputar com os homens? Só nas eleições, que ela vai ocupar os espaços? Que lideranças de mulheres nós vamos construir? Na verdade chega na eleição nós vamos colocar, como muitos partidos botam, e até o Bolsonaro, vamos botar laranjas porque o partido ficou na demagogia de dizer que é 50% mas só na palavra. Tem que investir porque na próxima eleição vai continuar 50% dos homens bem fortes e as mulheres vão continuar fraquinhas. 

Governo Lula: diferença dos primeiros para o mandato atual…

O primeiro mandato serve também para aprender e ele foi um excelente presidente da República, no segundo melhor ainda e eu não tenho dúvida que o terceiro será excepcional. Vai deixar uma marca para o mundo. Mesmo com tudo que tem de articulação contra ele, ele vai deixar o país como referência mundial.

Em que sentido?

Na questão da economia. Ele colocou os melhores, Haddad, Tebet e além de tudo, ele aprendeu que uma coisa que sempre preguei: ninguém faz nada sozinho.

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