Em entrevista exclusiva ao blog, a deputada federal Júlia Zanatta (PL), contesta a falta de diálogo do governador Jorginho Mello, que também é presidente estadual do PL, com líderes do partido em Santa Catarina. Júlia avalia que questões como a ampliação da participação do MDB no governo deveriam ser pelo menos comunicadas, e lembra de quando Jorginho estava em início de campanha em 2022, e era chamado de “Sozinho Mello”.
” É que a gente fica sabendo pela imprensa. Não que ele tenha que consultar a gente porque o governador é ele. Mas a gente precisa ser informado sobre o que está acontecendo”, diz a deputada.
Mais que isso, a deputada também informa que não foi ouvida na recente campanha eleitoral de Criciúma, quando Ricardo Guidi, candidato do PL foi derrotado, e classifica de “vergonheira” informações que circularem sobre o candidato do MDB, Paulo Ferrarezi ter na reta final solicitado voto para Guidi.
“Todo mundo sabe em Criciúma que o MDB no final, o Paulo Ferrarezi fez uma vergonheira de pedir voto para o Guidi. Que os vereadores do MDB estavam pedindo voto para o Guidi. Adiantou do que? Adiantou do que ter a força do MDB com o PL? Quando o MDB ficou com o Moisés, não adiantou. Não é isso que adianta. Pode adiantar lá na Assembleia, agora para o povo, para o povo talvez não adiante”, avalia na entrevista.
Confira na íntegra:
Nos últimos dias a sra tem falado sobre a ampliação da participação do MDB no governo de Jorginho Mello, agora com três secretarias. Sua avaliação sobre essa questão:
Bom, desde o início do governo Jorginho Mello eu não sei até hoje quantas secretarias o próprio PL tem. A gente nunca cobrou esse tipo de participação do governo. Eu fico até na dúvida, se eu participo ou não participo do governo. Mas a gente sabe que o governador Jorginho Mello precisa de base de apoio na Assembleia, mas ele precisa também de base de apoio com o povo catarinense que ele tem, que o apoiou quando logo no início ele era chamado de “Sozinho Mello” por todos os partidos, por todas as lideranças políticas. Debochado. Mas eu estava ao lado dele defendendo a bandeira dele e lutando por ele. E hoje, não é questão de ser o MDB, o PP ou sei lá o que. É questão de que penso que está faltando prestígio para aqueles que o apoiaram lá atrás, para que a gente saiba pelo menos o que vai acontecer.
Em que sentido esse prestígio ao qual a sra se refere?
É que a gente fica sabendo pela imprensa. Não que ele tenha que consultar a gente porque o governador é ele. Mas a gente precisa ser informado sobre o que está acontecendo. E até agora não foi, eu mandei mensagem para o governador ele me respondeu que o MDB já está no governo e de fato já está. Fiz mais algumas perguntas que ele disse que ainda não sabia. Então só esse tipo de conversa que eu acho prudente dentro do partido e que não vejo que estão acontecendo. Agora, cada um tem seu método. Se o método do Jorginho é esse bom, daí a gente tem que aceitar. Ou não né?
A sra não aceita?
Eu não concordo. Eu gostaria de ser ouvida, como pedi muito para ser ouvida aqui na eleição em Criciúma e não fui. Não fui ouvida, fizeram o que quiseram. O resultado está aí.
Também correu a informação que a sra estaria descontente com o fato de esse convite para o MDB proporcionar que o suplente de deputado Luiz Fernando Cardoso, o Vampiro, se mantenha na Câmara. Isso incomoda a sra?
Não incomoda porque eu já fiz mais votos que todos os deputados que foram candidatos e até os eleitos eu fui a melhor votada de todos de Criciúma. Então, fiz isso sem mandato, eu confio no meu trabalho e eu estou trabalhando para aumentar os meus votos. Claro que quem vai decidir isso é o povo catarinense. Então isso não me incomoda, eu tenho conversado bastante com o Vampiro lá em Brasília, ele tem praticamente votado conosco e tal e eu não tenho nada contra ele pessoalmente. Mas é aquilo que eu falo novamente. Isso vai mexer não somente com a vida da deputada Júlia. Tem o Daniel, tem o Ricardo. Então, isso foi conversado com os outros? Não sei porque eu não perguntei mas será que foi e comigo não foi? Por mim, por questão eleitoral eu não estou preocupada. Mas pela questão da parceria mesmo. Aquilo que vai afetar a minha região, a nossa região aqui, minha e do Daniel, pelo menos a mim, não foi sequer informado.
Essa questão do Ricardo Guidi. Ele é deputado hoje, ele não teve sucesso na eleição em Criciúma. A sra tem conversado com ele? Ele é pré-candidato a deputado federal?
Eu não conversei com ele a respeito disso. Encontrei com ele rapidamente no encontro de prefeitos do PL só que era muito recente tal. Ele me falou que a tendência seria concorrer a deputado federal mas isso é uma escolha dele.
Teve uma entrevista nesses dias com o prefeito eleito de Tubarão, Estêner Soratto e ele praticamente lançou sua pré-candidatura a senadora. Isso está em seus planos deputada, concorrer ao senado em 2026?
Eu não tenho esse planejamento porque eu não planejo aquilo que não posso controlar. Então essa decisão de quem será o candidato ao senado não sabe a mim. Existe uma hierarquia dentro do partido e quem vai decidir é o Jair Bolsonaro. Então, eu não posso planejar aquilo que eu não posso controlar. Isso foi uma manifestação de apoio do Soratto, que virou um grande amigo nosso, que tem essa vontade de uma candidatura ao senado pela região sul em torno do meu nome. Mas eu até falo né, que estou trabalhando para fazer uma boa reeleição, que é aquilo que eu posso controlar. Em que pese tenha gente querendo atrapalhar a minha reeleição, mas eu consigo trabalhar dentro de uma reeleição. O resto, eu tenho falado: eu não vou brigar dentro do partido por isso, eu não vou comprar inimigos dentro do partido por isso. Mas por uma coisa eu vou brigar pela vaga no senado: que seja uma pessoa totalmente alinhada aos nossos valores e princípios e para que essa vaga não seja negociada com outros partidos. Que a vaga fique para o PL e que fique para um dos deputados federais já com mandato. Que não tenha fura fila.
São duas vagas. As duas ficariam com o PL?
Eu prefiro que as duas fiquem com o PL.
Esses dias o deputado Ivan Naatz em uma entrevista que concedeu a mim ao defender essa questão do governador Jorginho Mello e o MDB também se referiu a sra. Disse que não há demarcação de território.
O deputado Ivan naatz tem razão, não existe demarcação de território. Tanto que eu fiz um vereador na cidade dele, de Blumenau e ele não fez nenhum. E eu fiz também um vereador na minha cidade, em Criciúma. O vereador que se elegeu em Blumenau era meu assessor, era do meu gabinete. Nunca tinha sido candidato. Então, não existe demarcação de território concordo com o deputado Ivan Naatz e ele me elogiou até, agradeço, mas quando é lá em Blumenau que vão colocando pessoas ele fica um pouco brabo. Ele até criticou pessoas que entraram no partido, como o vereador Jovino, eu vi um vídeo durante a campanha, que até alguns correligionários do PL estavam reocupados com o que poderia acontecer em razão daquele vídeo que ele fez contra esse vereador, que acabou se reelegendo. Então, quando é em Blumenau, talvez ele trate de uma forma. Quando é em Criciúma, ele trata de outra. Ele fala que nós precisamos do MDB para avançar em outros territórios porque perdemos a eleição em Criciúma. Todo mundo sabe em Criciúma que o MDB no final, o Paulo Ferrarezi fez uma vergonheira de pedir voto para o Guidi. Que os vereadores do MDB estavam pedindo voto para o Guidi. Adiantou do que? Adiantou do que ter a força do MDB com o PL? Se se juntasse todo mundo, o PP e o MDB, porque no PP parece que também tinha gente pedindo voto para o Guidi, não adiantou. Quando o MDB ficou com o Moisés, não adiantou. Não é isso que adianta. Pode adiantar lá na Assembleia, agora para o povo, para o povo Talvez não adiante.
A sra considera então que essa “investida” do governador no MDB pode ter mais a ver com a questão da eleição da mesa da Assembleia?
Não sei. Não sei porque não foi conversado. Então, se fosse conversado, explicado, quem sabe a gente não precisaria nem estar dando essa entrevista.
A questão do MDB no governo. Existe uma tese que o governador teria esse interesse no Carlos Chiodini para estar no governo por ser ele muito próximo a lideranças com o Renan Calheiros e isso poderia ser uma certa aproximação do governo de SC com o governo federal até pela questão de recursos. A sra vê que seria essa a intenção?
Não sei. Porque não foi conversado, não houve diálogo, não houve conversa, não houve informação. Repito: ninguém precisa me consultar. Não. O governador é o Jorginho Mello. Mas eu não sei o que está acontecendo. Não fui informada. Mas, na campanha, para o nosso eleitor, quem vale mais? Os votos bolsonaristas, anti sistema, daquelas pessoas que estão cansadas de ver tudo igual sempre, ou a força do MDB? Eu não sei. É um questionamento que me faço. Eu não sei se é isso que o governador quer. Eu acho que é justo o governo federal seja ele quem for, e hoje é o governo Lula, dar o dinheiro que é devido a Santa Catarina. Agora, você acha mesmo que o governo Lula vai dar dinheiro para Santa Catarina, um governo do ódio e da vingança? Ah porque o Chiodini. Sim, o Chiodini vota quase tudo 100% com o governo Lula. Ah ele tem prestígio? Ele pode ter. Mas o governador Jorginho Mello não vai ter. O governador Jorginho Mello nem recebe o Lula. Não adianta colocar um secretário que vai lá fazer um afago no Lula e tal.. Esse governo não vai dar nada para Santa Catarina.
A sra acredita que em 2026 Jair Bolsonaro vai conseguir ser candidato a presidente?
Eu tenho certeza que ele vai conseguir.
De que forma?
Ele vai reverter a inelegibilidade dele pela conjuntura política, econômica e social do país. Você sabe que no Brasil não é nada direito. Não é nada lei, justiça. Tudo pode acontecer e eu acho que na situação que estamos indo, de mal a pior e com a eleição do Trump, não podemos esquecer desse fator, pode sim virar o jogo.
A sra está certa que o Trump ganha essa eleição nos Estados Unidos?
Certa só da morte. Então não tenho certeza. Confesso que na outra eleição acompanhei mais. Até fui convidada para ir para os Estados Unidos , alguns colegas foram, o Eduardo Bolsonaro foi. Eu acabei não indo por outras agendas em Brasília.
Sua expectativa em Criciúma com o governo do Vaguinho, que é uma continuidade do Clésio Salvaro e que foi eleito contra o seu partido, porque o Ricardo Guidi não teve êxito nessa eleição.
Eu estava com as expectativas bem boas com o novo governo, continuidade do governo agora com novo gestor, o Vaguinho, mas confesso que me decepcionei um pouco. Isso porque, durante a eleição ele chamou todo mundo de melancia e depois a primeira vez que foi a Brasília, foi aliado a pessoas do Partido Comunista do Brasil. Vi uma foto com o Orlando Silva, que foi o deputado relator do PL da Censura, que nós conseguimos retirar de pauta. Ou seja, ele sentou com o cara que queria a censura do brasileiro lá em Brasília. Ah mas foi para pegar recursos.. Eu estudo a esquerda, eu estudo o comunismo há anos. A esquerda e o comunismo nunca te dão nada de graça. Então para isso se ele for ganhar algo é obvio que ele vai ter que dar algo, ele vai ter que ceder em pautas. Então isso me preocupou um pouco porque ele ficou a campanha inteira pregando que era de direita e agora ah não é em nome de Criciúma. E aí outro também que ele estava era um cara do PSB aqui de Criciúma. Então isso me preocupa um pouco e então alguém diz: ah não, não tem ideologia. Não, você pregou a campanha inteira que era de direita. Então, ele vai dar continuidade ao que era do prefeito Clésio? Porque o prefeito Clésio também tinha pautas ideológicas. Tinha pauta da gestão mas pautas ideológicas. Será que ele vai dar continuidade? Agora me preocupou um pouco por conta dessa atitude que eu vi. Agora vamos aguardar.